A batalha invisível entre o “eu” e o vício

A batalha invisível entre o “eu” e o vício

Você não vence um vício apenas com força de vontade. Antes de tudo, é preciso entender o que ele é. Muitos autores, de Gary Wilson, autor de Your Brain on Porn, a Augusto Cury, com sua teoria da inteligência multifocal, apontam que o vício não é apenas uma falha moral ou fraqueza emocional. Ele é um mecanismo vivo que se alimenta de hábitos, recompensas e repetições.

Em Romanos 7:17-20, o apóstolo Paulo descreve com clareza essa luta interna: o desejo de fazer o bem e a incapacidade de executá-lo. Ele reconhece uma força estranha dentro de si, o pecado que habita no homem —, algo que o domina mesmo quando ele não quer. Essa metáfora espiritual explica, com impressionante precisão psicológica, o que a ciência moderna chama de condicionamento neural: padrões automáticos que o cérebro cria para garantir prazer, mesmo que isso custe dor ou culpa depois.

A ideia de que o vício tem “vida própria” pode parecer simbólica, mas faz sentido do ponto de vista neuropsicológico. Cada vez que cedemos a um impulso, fortalecemos conexões cerebrais específicas, como trilhas que se tornam estradas. Com o tempo, o vício ganha “autonomia”, como se fosse uma segunda mente dentro de nós, capaz de nos manipular com justificativas sutis:

“Só dessa vez.”
“Você merece.”
“Não vai fazer diferença.”

Esses pensamentos não são aleatórios. São expressões do vício tentando sobreviver. O psicólogo Ross Rosenberg, chama isso de self-addicted system, um ciclo interno que busca manter o vício vivo. E, como toda forma de vida, ele luta quando se sente ameaçado.

Ao tentar abandonar um vício, surge o desconforto da abstinência: física, emocional ou espiritual. Essa sensação é o vício “gritando”, tentando permanecer vivo. Mas é nesse ponto que começa a verdadeira libertação.

Paulo, o apóstolo, chama esse processo de “mortificar as obras do corpo” (Romanos 8:13). Gary Wilson, por sua vez, descreve algo semelhante: o “reboot”, uma fase em que o cérebro se reorganiza e reaprende a sentir prazer de forma saudável. Ou seja, quanto mais você resiste, mais o vício enfraquece. Ele morre de fome quando não é alimentado.

Um caminho de consciência e disciplina

Combater o vício é, portanto, um exercício de consciência. Não se trata de negação, mas de reconhecimento. O primeiro passo é enxergar o vício como algo separado de você, uma entidade que não define quem você é. Como lembra o psiquiatra Flávio Gikovate, “não há virtude em não sentir tentações, mas em superá-las conscientemente”. É nesse ponto que nasce a verdadeira força interior: quando o eu desperto decide quem governa.

Quando você entende que o vício é vivo, percebe também que ele pode morrer. E, ao morrer, abre espaço para que a vida verdadeira floresça dentro de você, aquela guiada pela luz da consciência, pela fé e pela coragem de recomeçar quantas vezes for preciso.

Quais vícios, grandes ou pequenos, estão tentando viver dentro de você? Compartilhe sua experiência, inspire outras pessoas e ajude a espalhar o bem. Nosso mundo precisa de histórias de superação, não de silêncio. Que tal começar a escrever a sua hoje mesmo?

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